Nova tecnologia descobre pirâmides e outras construções na Amazônia

Pirâmides e outras construções na Amazônia

Um artigo publicado na quarta-feira (25) na revista Nature descreve um conjunto de descobertas arqueológicas impressionantes escondidas na Amazônia boliviana. Segundo este estudo, realizado por pesquisadores da Alemanha e do Reino Unido, esta tecnologia a laser avançada possibilitou mapear grandes assentamentos que remontam à Idade Média e mostram construções feitas de barro e pirâmides com altura de prédios de oito andares.

O recurso aplicado é conhecido como LIDAR (sigla em inglês para Detecção de Luz e Varredura), uma tecnologia óptica de identificação remota que mede propriedades da luz refletida de modo a medir a distância de um determinado objeto. Assim, os cientistas foram capazes de ultrapassar a densa vegetação na região, onde muitos especialistas acreditavam não haver sociedades sofisticadas até a chegada dos colonizadores europeus no século 16. Foi essa tecnologia que possibilitou a descoberta dessas pirâmides e outras construções na Amazônia.

“Este é o primeiro do que espero ser uma enorme série de estudos que vão desmistificar os preconceitos sobre como eram as politizações pré-hispânicas na Amazônia em termos de sua complexidade, tamanho e densidade”, comentou o arqueólogo Chris Fisher da Universidade do Estado do Colorado. Segundo o arqueólogo, acreditava-se que a ocupação humana pré-hispânica na área tinha como características pequenos grupos com desenvolvimento social limitado e sistemas agrícolas.

Tecnologia a laser encontra pirâmides

Pirâmides e outras construções na Amazônia boliviana

Para a realização da pesquisa, feita em 2019, foi utilizado um helicóptero equipado de equipamentos LIDAR para escanear seis regiões. Essa iniciativa revelou um total de 26 assentamentos em detalhes incríveis, sendo que 11 antes eram desconhecidos. “As descobertas se somam a evidências crescentes que desafiam a noção de longa data de que a ocupação humana na Amazônia Ocidental era escassa”, disse o professor de geografia da Universidade McGill, no Canadá, Oliver Coomes ao The Wall Street Journal (WSJ).

Segundo vemos na pesquisa, os assentamentos foram construídos pela cultura Casarabe, os ocupantes das planícies amazônicas (uma mistura de savana e florestas dispersas) em uma área com mais de 2,7 mil metros quadrados onde hoje se encontra a Bolívia, entre cerca de 600 e 1,5 mil anos atrás. Para sua base alimentar, cultivavam milho e outras lavouras, além de proteínas vindas da caça e da pesca. Além da sociedade Casarabe, os arqueólogos também conheciam a existência dos povos Cotoca e Landívar. No entanto, o novo estudo trouxe um fator surpresa, que é o tamanho e a arquitetura elaborada de muitos dos assentamentos.

Grande parte desses locais abrigava montes monumentais (conhecidos como lomas), hidrovias, reservatórios e pirâmides cobertas com pequenas plataformas. Segundo um dos coautores da nova abordagem, Heiko Prümers, do Instituto Arqueológico Alemão, os assentamentos eram ligados por calçadas elevadas de até 10 km de comprimento. “Eles estão integrados em uma rede de estradas e canais. Isso implica um grau de cultura que nunca se imaginou existir na Amazônia antes”.

Lidar é um divisor de águas

LIDAR é um divisor de águas, segundo os cientistas

Ao contrário da cultura Inca, que fazia uso de rochas andesitas ou arenito para construir seus monumentos, a arquitetura Casarabe utilizava terra, areia e lodo que eram modeladas pelos construtores. “Na época, parecia realmente fabuloso”, disse Fisher sobre o agrupamento de estruturas de barro que compõem os assentamentos recém-detalhados. “Mas, isso simplesmente não se sustenta como a pedra faz. Essas estruturas eventualmente se desfazem”. Durante a pesquisa de campo, o equipamento instalado no helicóptero liberou feixes de luz que refletiam os objetos no solo, enquanto os programas de software traduziam os sinais para produzir mapas tridimensionais dos assentamentos sem mostrar a vegetação que os encobria.

Para o antropólogo Takeshi Inomata da Universidade Estadual do Arizona, o uso dessa tecnologia pode transformar inteiramente a compreensão da história humana em áreas como a Amazônia e outras regiões tropicais remotas. “Tendemos a pensar que a floresta tropical era um ambiente hostil para as pessoas”. E ainda acrescentou que a falta de evidências arqueológicas de antigos assentamentos em algumas regiões pode indicar não a ausência de tais assentamentos, mas sim a dificuldade em detectá-los.